Meteorito com idade estimada em 4,5 bilhões de anos é encontrado em Nova Olinda no Vale do Pianco
Rocha espacial foi analisada, classificada e oficializada pela Meteoritical Society, organização acadêmica com sede nos Estados Unidos
Um meteorito de quase 27 quilos foi encontrado na cidade de Nova Olinda, no Sertão paraibano, a 433 km de João Pessoa. A rocha espacial foi analisada, classificada e oficializada no último sábado (19) pela Meteoritical Society, organização acadêmica com sede no estado da Virginia, Estados Unidos.
Esta é a primeira vez que um meteorito é descoberto na Paraíba. De acordo com a Associação Paraibana de Astronomia (APA), estima-se que rocha tenha 4,5 bilhões de anos, período de formação do Sistema Solar. O meteorito, que recebeu o nome Nova Olinda, é composto principalmente por ferro e níquel. Análises indicaram que ele tenha como origem um protoplaneta destruído por violento impacto.
“Ainda não se sabe há quanto tempo o meteorito Nova Olinda teria caído na Terra. Mas devido ao intemperismo observado nele, é provável que isso tenha ocorrido há alguns milhares de anos, e ele tenha permanecido enterrado por todo esse tempo”, divulgou a Associação Paraibana de Astronomia.
Apesar de só ter sido reconhecido no último fim de semana, o meteorito foi achado em 2014. Os irmãos Edsom e João Oliveira procuravam por ouro na fazenda deles na Zona Rural de Nova Olinda. Com ajuda de um detector de metais, ele chegaram até o objeto, que estavam embaixo da terra, próximo a um lago. Eles usaram uma picareta para desenterrar a rocha. Como não se tratava de ouro, a pedra espacial acabou ‘esquecida’ na casa de Edsom e João, servindo apenas de enfeite da mesa de jantar.
A história só começa a mudar em 2020, após a descoberta de outro meteorito em Santa Filomena, Pernambuco. Com a repercussão do caso, Edsom e João Oliveira suspeitaram que a pedra usada por eles como adorno doméstico poderia também ter como origem o espaço. Pela internet, os irmãos entraram em contato com o pesquisador e colecionador de meteoritos André Moutinho, que os orientou a enviar amostras para São Paulo. Moutinho realizou testes e confirmou que tratava-se de um meteorito. O pesquisador, então, iniciou processos de análises física, química e petrográfica para classificação do meteorito.
As análises do meteorito encontrado na Paraíba foram feitas através de uma parceria entre pesquisadores da Universidade de Alberta (Canadá) e um grupo de pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP), Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP).
O ‘Nova Olinda’ é o segundo meteorito metálico classificado a partir de análises químicas feitas no Brasil. O primeiro foi o ‘Conceição do Tocantins’, também oficializado este ano pela Meteoritical Society.
Destino do meteorito
Em novembro do ano passado, depois que foram realizadas em São Paulo as análises que comprovavam a origem espacial da rocha e pouco antes da submissão à Meteoritical Socierty, André Moutinho entrou em contato com a Associação Paraibana de Astronomia para tentar garantir que o meteorito fique no estado.
A ideia é vender o meteorito para o Governo do Estado. Assim, ele ficaria exposto permanentemente no hall do Planetário do Espaço Cultural José Lins do Rêgo, em João Pessoa. Um ofício foi enviado à Secretaria de Estado da Educação, Ciência e Tecnologia, que, segundo a APA, não respondeu ao pedido de agendamento de audiência.
“O Planetário do Espaço Cultural já é um importante equipamento para o ensino e para a popularização da ciência no Estado. Se pudesse contar também com o primeiro meteorito da Paraíba em exposição, permitiria aos visitantes do Planetário que tivessem uma experiência única. Infelizmente, mesmo depois de cobrar retorno tanto por e-mail quanto por telefone, passaram-se 4 meses e até hoje não houve nenhuma resposta”, lamentou a associação.
De acordo com a APA, apesar de ter valor científico para a Paraíba, o meteorito Nova Olinda não tem muito valor comercial. A associação avalia que a compra do meteorito e a montagem da exposição custaria cerca de R$ 50 mil ao Governo do Estado.
A Secretaria de Estado da Educação e da Ciência e Tecnologia (SEECT) da Paraíba disse ao Portal Correio que não recebeu contatos para promover audiência para debater o tema, mas irá agendar uma reunião com a Associação Paraibana de Astronomia para discutir sobre o destino do meteorito.
“A Pasta acompanha o trâmite do PL 4441/2020 no Congresso Nacional que estabelece que todos os meteoritos são bens da União e proíbe a exportação sem prévia anuência da Agência Nacional de Mineração”, disse a Secretaria.