Biden diz não acreditar que China vá enviar armas à Rússia na Guerra da Ucrânia
Em aparente tentativa para diminuir as tensões com a China, o presidente dos EUAs, Joe Biden, disse que não acredita em uma “iniciativa importante” por parte de Pequim para fornecer armas à Rússia que seriam usadas na Guerra da Ucrânia, que completou um ano.
O comentário foi feito após o secretário de Estado Antony Blinken afirmar que o regime chinês estava considerando “fornecer apoio letal” a Moscou, que iria de munição até as “armas próprias”, o que Pequim negou. O episódio iniciou nova troca de acusações entre os dois países.
Biden lembrou em entrevista ao canal americano ABC News exibida na noite desta sexta 24 que, durante uma conversa com o líder chinês, Xi Jinping, deixou claro que Pequim sofreria retaliações se decidisse fornecer armas a Moscou. “Mas não vimos isso até o momento. Não prevejo uma grande iniciativa por parte da China para fornecer armamento à Rússia.”
Questionado se o envio de armas ultrapassaria a linha estabelecida por Washington, Biden afirmou que os EUA responderiam. “Colocaríamos sanções severas a qualquer um que fizesse isso.”
Biden e Xi tiveram no ano passado o primeiro encontro presencial desde a eleição do democrata, em Bali, na Indonésia, na véspera da cúpula do G20. Além da guerra, eles conversaram sobre a batalha comercial envolvendo disputas tarifárias e semicondutores, atritos em Taiwan e na Coreia do Norte e direitos humanos.
E eu disse [a Xi Jinping]: ‘Se você estiver envolvido no mesmo tipo de brutalidade, se apoiar a brutalidade que está acontecendo, você pode enfrentar as mesmas consequências’”, disse Biden na entrevista exibida nesta sexta. O americano afirmou ter enfatizado ao chinês que, após o início da guerra no Leste Europeu, cerca de 600 empresas americanas deixaram a Rússia sem “qualquer pressão do governo”.
Pequim é um dos maiores aliados de Moscou, com quem celebrou uma “amizade sem limites” dias antes do início do conflito. Apesar de ter criticado a guerra, aludindo a uma retórica mais generalista de defesa da paz e de uma solução política, nunca condenou publicamente Vladimir Putin pela invasão. Também se desvencilhou de pedidos da comunidade internacional para que se posicione de forma mais dura.
Na quarta-feira 22, o chefe da diplomacia chinesa, Wang Yi, encontrou Vladimir Putin. Diante do russo, disse que são os EUA, não a China, “que estão constantemente enviando armas para o campo de batalha”.
A troca de advertências entre os diplomatas dos EUA e da China acontece em um momento delicado da relação entre as duas potências. O estopim da crise mais recente foi o anúncio pelo Pentágono da descoberta de um balão chinês sobrevoando o território americano no início do mês, às vésperas de uma viagem de Blinken ao país asiático.
Washington afirma que o objeto seria um instrumento de espionagem, enquanto Pequim insiste que o balão é um equipamento de pesquisas.
Aliados da Ucrânia tentam impor sanções e proibições comerciais para sufocar a capacidade de Moscou de adquirir mais armas ou produzi-las com material importado. Na sexta-feira, dia que a invasão russa da Ucrânia completou um ano, o G7, grupo que reúne algumas das maiores economias mundiais, informou que qualquer país que ajudar a Rússia com “apoio material” para a guerra “enfrentará custos severos”.
Neste sábado 25, os membros do G20 não chegaram a um acordo para uma declaração conjunta devido a impasses relacionados à Guerra da Ucrânia. Enquanto a maior parte dos países condenou a ofensiva de Moscou, a China se recusou a assinar o documento.
A falta de consenso na reunião com os chefes de Finanças dos países fez com que a Índia, que preside o encontro, recorresse à emissão do “resumo do presidente”, documento que simplesmente registrou os dois dias das conversas.
“A maioria dos membros condenou a guerra e enfatizou que o conflito causa imenso sofrimento humano, além de exacerbar as fragilidades da economia global”, diz trecho da declaração.
A França já havia informado que não assinaria o documento caso não fossem incluídas condenações veementes à Rússia. O presidente Emmanuel Macron anunciou que viajará à China em abril. Ele pediu a Pequim que “ajude a pressionar a Rússia” pelo fim da guerra.
Na véspera, Pequim apresentou um plano de paz genérico para a Ucrânia, mas o documento não foi recebido como esperado pelo Ocidente. Líderes europeus demonstraram ceticismo diante da alegação de neutralidade de Pequim dada a sua proximidade com a Rússia. “De qualquer forma, o fato de a China se comprometer com os esforços de paz é muito bom”, disse Macron.
Por Folha de SP