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“Todo mundo vai pegar o Coronavírus”; saiba

Um estudo publicado na prestigiada revista Science assustou os brasileiros: segundo previsões dos pesquisadores da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, caso não seja encontrada vacina eficiente contra o novo coronavírus ou um medicamento que cure a doença, o mundo deve seguir até 2022 em distanciamento social intermitente.

Como o Sars-Cov-2 é um vírus completamente novo, ninguém tem anticorpos contra ele até ser infectado. Além de recebermos a carga viral despreparados, o coronavírus é muito contagioso e o corpo demora a combatê-lo. É por essa conjunção de fatores que os sistemas de saúde do mundo estão correndo para ampliar a capacidade de atender pacientes graves.

Os casos confirmados de Covid-19 podem evoluir para quadros críticos (principalmente em pessoas com outras comorbidades, como diabetes ou cardiopatias), e a internação dura, geralmente, mais de 14 dias, ocupando o leito por muito tempo.

O estudo reforça o que já se sabia: o coronavírus não vai desaparecer sozinho. As medidas de distanciamento social são fundamentais para garantir que o governo tenha tempo de preparar hospitais e para que toda a população não fique doente ao mesmo tempo, mas é importante que se crie imunidade contra a doença.

Segunda onda

Porém, calibrar quando restringir as medidas de distanciamento ou flexibilizá-las é muito difícil e, até aqui, o mundo não tinha tanta experiência com quarentenas restritas. A anterior implantada no Brasil, por exemplo, foi em 1918, durante a Gripe Espanhola. A China, primeiro foco da epidemia do mundo, adotou restrições severas e conseguiu controlar o vírus, mas, agora, luta para evitar o que os especialistas chamam de “segunda onda” de contágio.

No caso da China, o que mais preocupa é a circulação de coronavírus fora de Wuhan, trazido por viajantes. No Brasil, uma segunda onda aconteceria (como prevê o estudo de Harvard) ao se flexibilizar o isolamento social antes da hora. Se a população sai às ruas para retomar a vida normal enquanto ainda há grande chance de contágio, observaríamos mais uma “onda” de pacientes inundando os hospitais do país.

“Para decretar o fim das medidas de distanciamento social de maneira segura, seria necessário controlar a transmissão. Em nenhuma cidade do Brasil isso é possível a curto prazo, pois não temos informações precisas sobre a propagação do vírus. Ele acabou de chegar, quase ninguém tem imunidade, significa que ele tem um vasto campo para se alastrar”, defende o médico sanitarista Claudio Maierovicth, chefe da Vigilância Epidemiológica da Fundação Oswaldo Cruz, de Brasília.

No caso do Sars-Cov-2, o desafio é ainda maior por conta da quantidade de pessoas assintomáticas ou com quadros leves que podem passar a Covid-19 adiante. “Mesmo se for realizada uma testagem em massa para todos que apresentam sintomas, os assintomáticos não seriam testados e, estando em circulação, espalhariam o vírus”, explica. Do ponto de vista da proteção à saúde, o cenário só poderia voltar ao normal quando houvesse uma parcela pequena de pessoas passíveis de serem contaminadas.

“Todo mundo vai pegar”

Por aqui, o ex-secretário de vigilância em saúde do Ministério da Saúde Wanderson de Oliveira sinalizou que a Covid-19 deve se tornar uma doença sazonal, como é hoje a gripe causada pelo vírus influenza. Segundo ele, eventualmente, todo mundo vai pegar o novo coronavírus.

O cenário seguinte, quando a doença estiver mais controlada, seria o de surtos episódicos, nas quais a Covid-19 se manifestaria em “clusters”, espécie de bolhas, grupos específicos, e o combate seria localizado. “No futuro, o número de mortos diminui porque o número de pessoas com anticorpos será suficiente para deter a propagação”, diz Maierovicth.

Um outro complicador que pode ser determinante para decidir o período do distanciamento social que vivemos hoje é quanto tempo dura a imunidade de pessoas que tiveram coronavírus e foram curadas. Se o organismo humano reagir como fez contra o vírus da Sars, um parente próximo do novo coronavírus, a imunidade só dura cerca de um ano e meio — depois disso, é possível pegar a doença novamente.

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